quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eccentricity

Há quem nasça com o rabo virado para a lua e depois há aqueles que nascem com o reflexo da luz da lua no rabo, proveniente do rabo dos anteriores... Eu devo fazer parte destes últimos.

No passado dia 29 de Outubro ocorreu um evento no Porto com grandiosidade tal que tenho a certeza que o “Jota” Cristo veio cá baixo para assistir com os próprios olhos. E pedir autografos... Qual groupie.
Estou a falar dum concerto privado. Tão privado que seria uma boa definição para a palavra exclusivo. Um concerto em que nem os V.I.P.’s lá entraram, os média nem souberam e nem mesmo as “vítimas” mais fanáticas sonharam. Estou a falar dum concerto passado na Casa da Música no Porto, esta que foi decorada e preparada para receber pela primeira vez em Portugal os The Killers. Sonho? Para vocês todos sim. E para mim, mais ou menos...

Numa operação flash, que nem mesmo a nossa PSP era capaz de controlar, um grupo de estrangeiros, veio e dominou a sala Suggia, onde no dia seguinte iria acolher Maria João e Mário Laginha. Foi montado todo um palco e vários ecrãs por todo o lado. Uma sala que tem 1238 lugares, dos quais nem 38 seriam ocupados...

É normal haver eventos privados na Casa da Música, todas os meses contam-se vários, uns com mais requinte, outros mais ousados, uns mais músicais, outros mais Hollywoodescos e de vez em quando surgem uns dignos de gravar. Ilegalmente claro. Este teve a particularidade de ser muito rápido em termos de montagem e envolveu grande secretismo e foi isso que atraíu a atenção de Carlitos.
Carlitos trabalha como segurança na Casa da Música. E já assistiu a muitos eventos privados e sabe que quando há tanto mistério de volta de algum é porque é bom. E se é bom, então é para gravar.
Por isso Carlitos tem no seu cacifo um mini gravador (dictafone analógico). Já o usou várias vezes, esta seria mais uma. Das muitas coisas que gravou até hoje, poucas merecem menção. Esta merece toda.
Por entre holofotes, colunas, cabine de D.J. e dispositivos que nem ele próprio sabe para que servem, existem espalhados pela sala posters a dizer “The Killers”. Ele nunca ouviu falar deles, mas ainda assim decide gravar. Tem um filho que gosta destas bandas modernas que só fazem ruido, pode ser que o filho conheça e que fique todo contente. ADORO O MEU PAI!

Durante a tarde houve testes aos equipamentos com a banda, dezenas de pessoas a trabalhar, uma ou outra a coordenar, nenhum espectador na plateia.
Ao fim de largas horas, a banda e toda a equipa sai da Casa da Música. Carlitos não os viu chegar, nem os viu partir. Eram umas 16:30.
Por volta das 21:00 várias limusines passam e deixam passageiros, primeiro a banda, todos os elementos cheios de estilo (se fosse editor de alguma revista para homens tipo a “GQ”, atribuía a um deles um prémio qualquer de tanta fashionisse), depois as vítimas que vão ter de gramar com este barulho todo. Mal sabem eles o mal que lhes faz ouvir estes gritos e gemidos de instrumentos, numa sala tão propícia para a propagação das ondas sonoras...

Uns últimos testes, umas piadas, o gravador do Carlitos a postos colocado num sítio estratégico e a música começa. Deus, lá de cima, sorri...
Carlitos estranha. Muito calmo. Muita melodia. O pequeno grupo na plateia canta e acompanha, sente os pelos eriçados. Gosta da música, faz-lhe lembrar os velhos tempos, quando era moço e ouvia na rádio Bruce Springsteen, The Cars, Duran Duran, David Bowie e os míticos Joy Division. Tem um bom pressentimento, acha que o filho vai gostar.
Ele próprio está a gostar. Como é que nunca tinha ouvido isto antes?! “The Killers” diz ele em voz baixa, ri-se sorrateiramente...
Várias músicas acústicas depois e o ritmo acelera, desta vez mais electrónico, mais numa onda de “Go west”, uma música original dos Village People, adaptada pelos Pet Shop Boys.
Carlinhos delira. Verifica se o gravador está a funcionar. Está, fica aliviado.
Após o que lhe pareceu um “está a ser bom, não foi?”, dá-se o fim do concerto e há lágrimas nas caras da plateia, chora-se baba e ranho, ele próprio continua arrepiado da ponta dos dedos à raiz dos cabelos. Palmas que fazim crer que os 1238 lugares estavam ocupados.

Deixa-se de cantar, mas a energia continua. Como uma tertúlia as pessoas fazem perguntas, a banda responde.

É quase meia-noite, todos saem, a equipa fica. Carlitos aproveita para agarrar um dos técnicos responsáveis para lhe colocar umas perguntas.
Aparentemente um rapaz português, fã infernal da banda, ganhou o Euro-Milhões. E como quem tem dinheiro tem poder, negociaram com os The Killers para virem actuar para ele e para o seu grupo de amigos. Houve muitos zeros à mistura, mas pelo acordo que houve entre ambas as partes, o “excênctrico” teve de doar igual fatia à (PRODUCTS)RED, a causa humanitária à qual os The Killers estão ligados há vários anos.

Mais umas horas e Carlitos vai para casa.
Vai feliz.
Sente-se Humano.

Acordo cedo pela manhã, é quinta-feira dia 30 de Outubro de 2008, dou conta da minha higiene, tomo os meus Chocapicas (com leite Vigor bem fresquinho, obviamente) e vejo o gravador do meu pai em cima da mesa. Tem um Post-It amarelo por cima: “The Killers” – Hein???
Carrego no Play. O mundo pára...

Deixo-vos então com o repertório, deliciem-se:

Enterlude
When you were young (Em acústico)
Mr Brightside (Em acústico)
Somebody told me (Em acústico)
Smile like you mean it (Em acústico)
All these things that I’ve done (Em acústico)
Sam’s Town (Em acústico)
On Top (Em acústico)
Change your mind (Em acústico)
Tranquilize (Em acústico)
Romeo and Juliet (Em acústico)
Time (Pink Floyd Cover)
Why don’t you find out for yourself (Morrissey Cover)
Girls just want to have fun (Cyndi Lauper Cover)
Can’t take my eyes of you (Frankie Valli Cover)
Oh yeah by the way (Demo)
Where is she (Soft surrender) (Não editada)
Murder Trilogy (Leave The Bourbon On The Shelf; Midnight Show; Jenny was a friend of mine)
Human (Day & Age)
A crippling blow (Faz parte do single Human a ser lançado a 4 de Novembro de 2008)
Joyride (Day & Age)
Spaceman (Day & Age)
Neon Tiger (Day & Age)
Losing Touch (Day & Age)
A great big sled (Música de Natal 2006)
Don’t shoot me Santa (Música de Natal 2007)
Joseph, better you than me (Música de Natal 2008)
Exitlude
*** Regressam ao palco ***
The Captain (Faixa escondida em Sawdust – Mr Brightside; Ao minuto 09:47)


Ainda não tive oportunidade de passar de Micro Cassete para MP3, daí ter deixado o repertório com links para as respectivas versões disponíveis na net.
Como podem ver só duas músicas novas foram exibidas no concerto, o B-Side que vai sair no Single Human e a música de caridade de 2008, apesar desta última não ter contado com a presença de Elton John.
Muito interessante foi o facto de terem sido tocadas versões em acústico da maioria das músicas mais antigas, sem dúvida que deve ter sido a melhor aposta visto que a Casa da Música aprecia muito esse tipo de sonoridades. Faz também sentido devido ao tipo de plateia para quem tocaram.
Achei muito interessante o regresso da banda ao palco após o Exitlude, especialmente para tocarem a música mais secreta de todas, eu próprio admito só a ter descoberto vários meses depois de ter adquirido o Sawdust... Acontece.
Foram mais de duas horas de concerto, onde os The Killers estiveram no seu melhor, num dos melhores locais do planeta para transformarem som em felicidade...
Após o concerto ainda houve tempo para algumas questões por parte dos convidados à banda, deixo-vos aqui uma tradução minha do que se passou a seguir.

Falem um pouco sobre vocês;
Somos uma banda Americana, viemos de Las Vegas e formámo-nos em 2002. Na voz e no teclado temos Brandon Flowers, também na voz e na guitarra Dave Keuning, na voz e no baixo Mark Stoermer e finalmente Ronnie Vannucci Jr. na percursão e na bateria.
Já lançámos 3 albúns, o quarto será lançado a 25 de Novembro (dia 24 no Reino Unido) e já vendemos mais de 12 milhões de cópias.


Onde foram buscar o vosso nome?
O nome veio dum videoclip dos New Order, da música Crystal. Somos grandes fãs da banda e reparámos que na bateria estava escrito “The Killers”, investigámos e como não era usado por ninguém decidimos ficar com o nome para nós.
(
New Order - Crystal ao minuto 01:21)

Porque chamam “Murder trilogy” às músicas “Leave The Bourbon On The Shelf”, “Midnight Show” e “Jenny was a friend of mine”?
As três músicas contam uma história de ficção sobre uma mulher que é assassinada pelo seu namorado ciumento. Só completámos esta história com o lançamento de Sawdust.
Em “Leave the bourbon on the shelf” apresentamos o motivo para o crime;
“Midnight show” fala sobre o assassinato.
A última parte do puzzle dá-se em “Jenny was a friend of mine” que fala sobre o julgamento.

Qual é a história por detrás de Where is she / Soft surrender?
Enquanto estavamos em digressão por Glasgow em 2003, vi nas notícias que uma rapariga chamada Jodi Jones de 14 anos tinha sido atraída para a floresta pelo seu namorado Luke Mitchell, também na altura com 14 anos que a assassinou numa tentativa de imitar a crime de Hollywood de 1940, conhecido como Black Dahlia.
Escrevemos esta canção na perspectiva da mãe da Jodi, a dirigir-se ao Luke a à sua mãe.
Por respeito à família e amigos da Jodi nunca editámos esta canção, apenas a tocamos em alguns concertos.

Que música foi a que tocaram a seguir à “Don’t shoot me Santa”?
É a nossa próxima música de natal, que vai contar com a colaboração do Elton John. Tal como as músicas anteriores, todos os lucros vão ser doados para a (RED).
A (RED) é uma marca para implicar o poder comercial e dos consumidores na luta contra a SIDA em África. Trabalha com grandes marcas do mundo inteiro que fabricam produtos destinados a reverter até 50% dos lucros ao fundo mundial para investir em programas Africanos pela SIDA, concentrando-se na saúde das mulheres e das crianças.
Foi também nesse âmbito que aceitámos este convite para vir tocar a esta sala hoje.

Quem foi o realizador do vídeo “Bones”, do álbum “Sam’s Town”?
Tim Burton

Os Killers fizeram recentemente uma versão de uma música dos Joy Division para uma banda sonora. Como se chama essa música e de que banda sonora faz parte?
A música chama-se Shadowplay e a banda sonora chama-se Control.

Esta não foi a primeira vez que o produtor Stuart Price trabalhou com os Killers. Quais foram as anteriores?
Stuart Price (Jacques Lu Cont / Les Rhythmes Digitales) além de estar a produzir o próximo e quarto album da banda, também fez um remix de “Mr Brightside” sobre o pseudónimo de Jacques Lu Cont (Nomeado para um Grammy em 2006) e também colaborou com a banda no Single natalício “Don’t shoot me Santa” em 2007.

“Expect the unexpected” digo eu.